“…los pesimistas se reclutan entre los ex esperanzados, puesto que para tener una visión negra del mundo hay que haber creído antes en él y en sus posibilidades. Y todavía resulta más curioso y paradojal que los pesimistas, una vez que resultaron desilusionados, no son constantes y sistemáticamente desesperanzados, sino que, en cierto modo, parecen dispuestos a renovar su esperanza a cada instante, aunque lo disimulen debajo de su negra envoltura de amargados universales, en virtud de una suerte de pudor metafísico; como si ele pesimismo, para mantenerse fuerte y siempre vigoroso, necesitase de vez en cuando un nuevo impulso producido por una nueva y brutal desilusión.” (Sobre héroes y tumbas, pg. 27, Editora La Nácion)
Lindo trecho do Sabato, longevo romancista porteño que completa 100 aninhos em 2011.
Ainda estou lendo (deliciado) Sobre Heróis e Tumbas, mas fiz questão de postar esta instigante reflexão que faz o vovô Ernesto sobre aquele terrível “mal da humanidade” que restou no fundo da Caixa de Pandora depois que todos os outros males já tinham batido asas e infestado este mundo caotizado por Zeus.
Não sei se André Comte-Sponville conhece Sobre Heróis e Tumbas, mas este trecho sobre a esperança tem tudo a ver com as ousadas idéias que o filósofo francês expõe no Tratado do Desespero e da Beatitude (que considero, sem medo do exagero, um dos melhores livros de filosofia da segunda metade do século XX).
Não só a esperança e o temor são gêmeos siameses, sempre coexistindo no desafortunado peito do esperançado-temente, como as primaveris esperanças, quando destroçadas pelos desencantos, são a raiz de todo pessimismo.
O esperançado-desiludido (e que esperançado não é constantemente golpeado por frustrações mil?) sempre acaba por amaldiçoar a realidade por não ter se mostrado como ele o desejava, ou como imaginava e fantasiava que deveria ser. Sem perceber que é sua demanda (seu exigir o impossível) o que causa a sua desgraça.
O pessimista é um otimista desiludido, e um otimista é só um potencial pessimista que ainda não foi desenganado.
Escolher entre um e outro? Que nada! O remédio amargo mas tonificante que receita Sponville é rejeitar de vez toda a esperança (tudo aquilo que desejamos sem poder, sem saber e sem gozar) e aquiescer diante de uma realidade que não é nem amaldiçoada nem louvada por inteiro, mas reconhecida por aquilo que é, independente do que desejaríamos que fosse. Nem pessimismo nem otimismo: realismo e lucidez.
Publicado em: 14/04/11
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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